Trump corta recursos de brigada brasileira de incêndio – 12/02/2025 – Ambiente

Os cortes da verba de ajuda externa do governo Donald Trump afetam o programa de manejo florestal e prevenção de incêndios no Brasil. Recursos dos Estados Unidos eram usados no treinamento de brigadistas que atuam na amazônia, no pantanal e no cerrado. Um desses grupos é a Brigada Xerente, formada por indígenas.

Em novembro do ano passado, a brigadista indígena Simone Xerente representou o projeto em encontro com o então presidente Joe Biden, em Manaus. A visita inédita de um presidente americano em exercício na amazônia resultou em promessas de fortalecimento da parceria entre o Brasil e os Estados Unidos na luta contra as queimadas.

Biden anunciou, na ocasião, o investimento de US$ 7,8 milhões para uma parceria de longa data do Serviço Florestal dos Estados Unidos com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Com este recurso, a parceria, firmada desde 2021, reforçaria estratégias das agências brasileiras na prevenção e resposta a incêndios florestais. A ideia seria aperfeiçoar as ações de combate através de uma linguagem comum e abordagens padronizadas.

Afetado pelo corte de recurso, o Serviço Florestal dos EUA promovia uma gestão inclusiva de incêndios no Brasil, treinando comunidades tradicionais, incluindo a primeira brigada de incêndio indígena composta exclusivamente por mulheres em Tocantins e Maranhão.

Em entrevista à Folha, Simone Xerente lamentou a suspensão da doação americana e disse esperar que a decisão seja repensada. Ela destacou que o intercâmbio entre os países resultava em troca de experiências e conhecimentos entre os combatentes de fogo.

“Recebi essa notícia com muita tristeza, pois através desta cooperação técnica entre o Brasil e os Estados Unidos eu recebi a minha formação como brigadista, em 2021, e tive a oportunidade de presenciar o compromisso dos Estados Unidos em apoiar as causas ambientais”, disse.

“Nós, indígenas, acreditamos na força da parceira, da integração. Os Estados Unidos têm um forte problema com incêndios e bons técnicos com muita experiência. Essa cooperação técnica era positiva porque juntava os saberes e o resultado era o fortalecimento de todos.”

Trump determinou a suspensão das atividades da Usaid, agência dos EUA para desenvolvimento internacional, que financiava atividades de organizações humanitárias em todo o mundo. No Brasil, a instituição atuava em diversas frentes, como na parte ambiental por meio do Serviço Florestal dos EUA.

O Ibama afirmou, em nota, que a paralisação da Usaid não impacta diretamente o enfrentamento dos incêndios florestais no Brasil, “uma vez que a prevenção e o combate são financiados pela União, abrangendo salários de brigadistas, aquisição de equipamentos, contratação de aeronaves, entre outras despesas”.

A autarquia disse, porém, que a suspensão do recurso da agência americana implica prejuízo em aspectos técnicos. A parceria contribuía para a reestruturação das instituições, particularmente em termos de capacitação de profissionais e realização de estudos.

Desde que voltou ao cargo, Trump já retirou novamente os EUA do Acordo de Paris —tratado de metas globais para redução da emissão de gases de efeito estufa—, cortou incentivos de projetos sustentáveis e impulsionou os combustíveis fósseis.

É um contraponto ao seu antecessor, Joe Biden, que tinha um discurso de preservação da amazônia. Um dos últimos atos do democrata na Presidência foi, na viagem ao Brasil, o anúncio de uma promessa de US$ 50 milhões (R$ 294 mi, na cotação atual) para ações de conservação no bioma —a verba ainda não saiu do papel, pendente de aprovação do Congresso dos EUA.

Também recebiam dinheiro dos EUA organizações como WWF-Brasil e IEB (Instituto Internacional de Educação do Brasil). Em 2023, Washington se comprometeu com US$ 638 mil (R$ 3,7 milhões, na cotação atual) para o CTI (Centro de Trabalho Indigenista).

Amazônia colombiana

Os efeitos dos cortes na área ambiental também serão sentidos em outras partes da amazônia. Para a Opiac (Organização Nacional dos Povos Indígenas da Amazônia Colombiana), o fechamento da Usaid pode resultar no aumento do desmatamento e do narcotráfico na região. A agência americana financiava programas de proteção da floresta e suas comunidades tradicionais.

A Opiac faz parte do G9, grupo indígena de coalizão anunciado durante a COP16, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre biodiversidade que ocorreu em Cali, na Colômbia. A Coiab (Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira) também integra o movimento.

De acordo com a entidade colombiana, sem esse apoio financeiro da Usaid, os jovens podem ser tentados a cair nas mãos de organizações criminosas que desmatam a floresta para cultivar folhas de coca, o principal componente da cocaína, e exploram minas ilegalmente.

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