Donald Trump dedicou boa parte do primeiro discurso do atual mandato ao Congresso dos EUA para atacar políticas inclusivas. “Acabamos com a tirania das políticas de chamada diversidade, equidade e inclusão em todo o governo federal. E, de fato, no setor privado e em nossas Forças Armadas”, afirmou Trump na terça (4).
Na esteira da saga da Suprema Corte dos EUA contra ações afirmativas, Trump legitima o que já se passava na mente de muitos CEOs e diretores mesmo que estes tivessem, nem sempre, a coragem de verbalizar: que diversidade, inclusão e equidade desvirtuariam o foco no mérito individual. É vergonhoso que empresas como Walmart e Meta tenham já em novembro revertido políticas de inclusão fortalecidas depois do assassinato brutal de George Floyd, mostrando que nunca foram sinceras a respeito delas.
Mérito é uma palavra estratégica porque, tal qual liberdade, permite aos conservadores empacotar, dentro do caráter polissêmico do termo, uma série de medidas racistas e misóginas numa forma aparentemente neutra. Quando Trump diz no discurso que “seja você médico, contador, advogado ou controlador de tráfego aéreo, você deve ser contratado e promovido com base em habilidade e competência, não em raça ou gênero”, o que ele está de fato dizendo é que se há poucas pessoas negras e mulheres na liderança destas profissões é porque estas não são capazes.
Opor mérito e diversidade é uma falácia: políticas inclusivas como metas de contratação de mulheres e pessoas negras não desconsideram as competências individuais, mas na verdade tais políticas verificam quais são os entraves para que certos grupos estejam subrepresentados em espaço de poder. Três livros são úteis neste sentido: “A Tirania do Mérito”, do Michel Sandel; o “Pacto da Branquitude”, de Cida Bento; e “A Cilada da Meritocracia”, de Daniel Markovits.
O mundo trumpista anti-woke é aquele em que mulheres só poderiam aspirar a secretárias sujeitas a assédio, negros a trabalhos manuais e pessoas trans ao ostracismo. Não há mais espaço para este mundo em 2025.
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