TVs box piratas viram computadores para escolas públicas – 10/03/2025 – Educação

Aparelhos de TV box piratas apreendidos pela Receita Federal, que já vêm sendo transformados em computadores para escolas públicas mais vulneráveis, poderão ser também adaptados para controlar a presença de alunos nas aulas, por biometria. A expectativa é de que o sistema ajude a reduzir a evasão escolar.

O projeto envolve a Receita Federal, estudantes e professores de áreas como engenharia e ciência da computação de instituições públicas de ensino.

Eles recebem as caixas apreendidas e atuam como “hackers do bem” para convertê-las. A partir de 2021, primeiro no sul de Minas e depois em São Paulo e em outros estados, as caixas passaram a ser transformadas em computadores.

Em SP, o projeto já contou com o apoio de Fatecs (Faculdades de Tecnologia do Estado de SP), da Unicamp (Universidade de Campinas), da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), entre outros.

Pioneiro no estado, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) – Campus Salto (interior) é um dos mais atuantes no país e já entregou 2.500 computadores feitos a partir de TVs box, sendo 1.500 para escolas públicas e outros mil para o atendimento à população em quiosques da Receita Federal.

Neste ano, o IFSP de Salto começará a testar a conversão de TVs box em aparelhos para o controle de presença biométrico nas escolas e faculdades.

Uma parte da conversão para esse novo uso é semelhante àquela da transformação em computador.

“A TV box pirata vem com uma instalação de Android corrompida, que, com softwares maliciosos, rouba sinais de TV por assinatura”, explica Luís Henrique Sacchi, doutor em engenharia elétrica pela Unicamp e professor de ciência da computação do Instituto Federal de Salto. Ele coordena os trabalhos com a TV box na instituição, que integra o projeto Bem-Te-Vi, da Receita Federal de Sorocaba.

“Tiramos a instalação de Android e colocamos uma de Linux [sistema operacional gratuito]. Assim, a caixa de TV se transforma em um computador de baixo custo.”

Para utilizar a TV box como computador, é preciso acoplar a ela um monitor, um teclado e um mouse. Já para o controle de presença, é necessário conectar um leitor biométrico de impressão digital à caixinha de TV, além do software livre que está sendo desenvolvido no campus de Salto para esse propósito.

Esse aparelho fica na mesa do professor, para que os alunos registrem sua presença. Ao final do dia, um email é enviado ao professor com os dados. O custo estimado de cada aparelho, sem uma produção em escala, gira em torno de R$ 600 a R$ 800.

“Nas instituições públicas de ensino, muitas vezes, o controle da presença não é eficiente, o que dificulta o entendimento sobre a evasão escolar”, afirma Sacchi.

Ele explica que uma das dificuldades para um controle de presença efetivo é que nem sempre há um computador na sala de aula para que o professor registre a chamada no sistema eletrônico. O docente precisa, então, usar o próprio celular, e a tela pequena não é adequada para visualizar a lista de alunos.

A plataforma do sistema da escola também pode estar fora do ar, e o sinal do wi-fi, fraco ou mesmo inexistente.

Com o controle de presença biométrico, defende Sacchi, os dados seriam mais precisos e seria possível, por exemplo, criar mecanismos de aviso, tanto para a escola como para as famílias, em caso de faltas.

“Um controle de presença eficiente pode alimentar softwares que busquem correlações com outros dados, por exemplo, se o aluno que está falando tem uma família com vulnerabilidade financeira, se está sendo atendido ou não por algum programa de apoio psicológico etc.”

Alunos de ciência da computação do Instituto Federal de Salto gravaram um vídeo sobre o projeto da TV box para ser exibido no recém-inaugurado Museu da Alfândega de Santos.

“É um projeto no qual adquirimos experiência prática, que tem impacto na nossa vida acadêmica e na comunidade externa”, diz Thiago Rafael Gonçalves da Silva, 23, diretor do projeto, que atuou na gravação do vídeo.

Aline Santos Ferreira, 20, conta que já atuou na catalogação e na conversão das TVs box, e agora faz parte do departamento administrativo do projeto. “É algo que nos proporciona um conhecimento amplo, não só de sistemas operacionais e de hardwares, como também de gestão.”

No vídeo, os estudantes explicam que a Receita Federal apreende, por ano, cerca de 600 mil TVs box piratas. Em geral, esses produtos são destruídos. O programa Receita Cidadã, contudo, busca reduzir o lixo eletrônico ao transformar a pirataria, danosa à economia do país, em produtos úteis para a sociedade.

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