A Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) expulsou estudantes que ocupavam um cômodo em seu prédio, chamada de Sala Lilás Janaína Miranda. O local funcionava como centro de referência para receber denúncias e acolher vítimas de assédio e abuso sexual na instituição.
Segundo a gestão da Politécnica, a retirada dos alunos do local ocorreu por questões de segurança. “Trata-se de área interditada, com risco de desabamento e presença de animais peçonhentos, como aranhas, escorpiões e morcegos, que não tem a menor condição de abrigar quem quer que seja.”
Naomi Asano, uma das responsáveis pela Janaína Miranda, diz que o espaço foi totalmente limpo antes de entrarem, e os problemas atuais são somente estruturais. Há, por exemplo, falta de telha. “A gente não estava ali, naquelas condições, porque queríamos, mas para evitar que alguém morra por violência de gênero e sexual.”
A sala, até então abandonada, foi tomada em 25 de novembro do último ano, em resposta às diversas denúncias de crimes sexuais que surgiam na Cidade Universitária. As vítimas estavam insatisfeitas com a falta de amparo e demora da universidade em analisar os casos.
Sua gestão tinha o apoio do DCE (Diretório Central dos Estudantes), que publicou nota afirmando que “mais uma vez, a USP mostra sua truculência e machismo, demonstrando que para eles, a vida das mulheres não importa e que preferem resolver fechando as portas dos espaços seguros da universidade”.
Os problemas sobre a ocupação começaram no início deste mês de fevereiro. No dia 6, a Escola Politécnica entregou uma notificação extrajudicial pedindo a liberação do espaço em cinco dias úteis. Nada ocorreu. A repartição diz ter demonstrado inclusive apoio ao movimento e oferecido ajuda para retirada de todos os pertences no prédio.
Na última quinta-feira (13), houve uma reunião entre representantes da universidade e da sala Janaína Miranda. A Politécnica reiterou que o local oferecia perigo aos estudantes, afirmou que a desocupação fora pedida pela Procuraria Geral da USP e estendeu o prazo para esta segunda-feira (17). Os estudantes resistiram, e a Guarda Universitária foi acionada para fechar o espaço nesta manhã.
Um protesto foi realizado no início da tarde pedindo a reabertura da dependência. Nele, os graduandos destacaram a importância de possuírem um espaço de escuta e acolhimento para mulheres vítimas de violência.