USP: Quem é o aluno que ficou no 1º lugar em medicina – 06/02/2025 – Educação

Ser aprovado na USP (Universidade de São Paulo), a melhor da América Latina, é um sonho que apenas 8.147 estudantes conseguem realizar todo ano. Imagine, então, o que é necessário fazer para ficar na primeira colocação no vestibular do curso de medicina, o mais concorrido da universidade?

O paulistano Henrique Valente Dória Fernandes, 17, contou à Folha como foi sua preparação para esse feito se tornar realidade. Aluno do Colégio Franciscano Pio XII, no Morumbi, zona oeste, Henrique afirma que sempre foi bom aluno, colocando o estudo em primeiro lugar. O fato de gostar de estudar e sua disciplina o ajudaram na vida escolar e, principalmente, na preparação para o vestibular, uma vez que não fez cursinho.

Uma de suas práticas no dia a dia era fazer os exercícios ou trabalhos assim que eram passados pelos professores, para entregá-los antes do prazo e, se tivessem algum problema, ter tempo de consertá-los.

Apesar de estar otimista, depois de ter tirado nota máxima na redação da Fuvest como treineiro, em 2023, Henrique afirma que nunca havia pensado em ser o primeiro no vestibular. “Alguns professores sempre brincavam com a gente, falando que não precisava ser o primeiro lugar no vestibular porque o primeiro e o último dividem a mesma sala na universidade. Sempre mantive o pé no chão”, diz.

Henrique também passou em medicina na Unicamp, em 39º, e na UFRJ, via Sisu. Qual escolher? “Vou fazer a USP, né! Pela qualidade do ensino e também porque é em São Paulo, onde moro. Então, tudo fica mais fácil, mais barato também.”

Henrique conta que no início queria cursar história, para ser professor. Depois, mudou para biologia. “Até que um professor de matemática, William Bala, me chamou de lado e falou assim: ‘Você já pensou em fazer medicina?’ Eu falei, não, eu quero dar aula. Ele falou, ‘mas você pode fazer medicina e pode dar aula’. Aí eu fiquei uns três, quatro meses com isso na cabeça. Aí, em junho de 2023, eu bati o martelo e comecei uma preparação bem mais focada.”

“A paixão de Dória pelo estudo era evidente. Durante meses, eu o observei se dedicar com entusiasmo às aulas e aos livros”, conta Bala. “Hoje, fico emocionado ao imaginar o futuro brilhante que ele terá, unindo o desejo de ensinar à nobre missão de salvar vidas. Afinal, sonhos podem se transformar, mas a essência de ajudar o próximo sempre permanece”, elogia o professor.

A rotina de Henrique em um ano e meio de preparação começava às 7h com as aulas normais, no colégio particular. Após sair, às 13h30, ele chegava em casa, almoçava e descansava um pouco, antes de voltar aos estudos sozinho às 15h, até 20h30.

“Não é tanto tempo você pensar em estudar cinco horas. Mas era porque eu prestava muita atenção na aula. Então, eu chegava em casa, não tinha que ficar revisando tanto a teoria. Lógico, eu dava uma olhada no caderno, mas eu pegava e resolvia as questões. Então, na plataforma do colégio tinha atividades essenciais, propostas, aprofundamentos e discursos. Eu não fazia só o essencial, eu fazia tudo.”

Se tinha dúvidas, ele chegava à escola no dia seguinte e perguntava aos professores. “Pedia para o professor, enchia o saco dele. Ele dava uma lista de exercícios e eu resolvia. Isso foi uma constante.”

Henrique conta que estudava todos os dias, inclusive aos sábados e domingos. Mas afirma que nunca deixou de sair com os amigos ou de ir a festas. “Muitos estudantes acabam tirando isso. E não pode. Tem que manter o lazer. Eu saía na sexta-feira à noite, acordava às 10h no sábado. Mas às 11h já estava estudando. E saía de novo à noite. Esse balanceamento é importante.”

Em relação às redações, ele diz que fazia uma por semana. Mas, na reta final de estudos, fez 15 em novembro e dezembro. Henrique diz que só teve necessidade de fazer aulas de reforço de matemática e física. O resultado de tanto estudo ele acompanhava pelas notas dos simulados que fazia.

“Não sei explicar muito bem o porquê, mas eu fui melhor em todos os vestibulares que fiz do que nos simulados. Acho que a maior nota que eu tive em simulados foi 81 de 90. E no dia da prova da primeira fase da Fuvest, eu fiz 86 de 90. A nota de corte era 79. Aí, na segunda fase, eu fiquei com 890 de média final, do total de mil.”

Quando as provas estavam se aproximando, Henrique diz ter ficado mais tenso, mas, afirma, não era pressionado por familiares nem pelo colégio. Assim, a única pressão que ele sentiu era a própria, de passar.

“Minha mãe até me implorava para eu parar de estudar”, conta Henrique. “Um amigo me falava: ‘eu tenho certeza que você vai passar’. Eu respondia, ‘que bom que você tem essa certeza, porque eu não tenho’.”

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