Policiais Militares do COE (Comando de Operações Especiais) retiraram a estrela de Davi de neon que ficava no alto de uma caixa d’água localizada em um dos pontos mais altos da Cidade Alta, na zona norte do Rio, uma das cinco comunidades do Complexo de Israel.
A ação de retirada ocorreu no início da tarde desta terça (11), durante uma operação que também demoliu uma residência localizada em Parada de Lucas, que segundo a investigação seria usada por Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão.
Policiais também retiraram bandeiras com a estrela que eram distribuídas em torres pelas comunidades de Parada de Lucas, Vigário Geral, Pica-pau, Cinco Bocas e Cidade Alta.
A estrela, visível e iluminada a distância, foi instalada durante a pandemia, quando Peixão criou o Complexo de Israel, onde traficantes autointitulados evangélicos atuam. Eles proíbem os moradores de praticar outras crenças em seus territórios, expulsando aqueles que não seguem sua fé.
De acordo com a polícia, Malaquias chama sua quadrilha de Tropa de Arão, em alusão ao irmão de Moisés, profeta bíblico. Ainda na Bíblia, Arão foi o responsável pela construção de um bezerro de ouro para adoração e fez festas, sendo descrito como um profeta que cometia erros, mas tinha o coração voltado para Deus.
A polícia também destruiu um lago que ficava no local que o traficante chamava de resort. Antes, retirou centenas de carpas que, segundo um especialista chamado para fazer a remoção, seriam avaliadas em R$ 600 mil.
Após a retirada dos peixes, uma retroescavadeira abriu caminho entre o lago e o rio Acari, escoando a água.
Já os equipamentos de uma academia foram apreendidos e devem, após decisão judicial, ficar à disposição de policiais para treinamento.
Um relatório de inteligência da Polícia Civil afirma que o Complexo de Israel desde a pandemia expandiu seus territórios para 36 ruas consideradas antes somente residenciais, sem a presença do tráfico, na zona norte carioca. Nelas há remoção constante de barricadas.
Peixão é o primeiro líder do tráfico do Rio a ser investigado por terrorismo, conforme a Folha noticiou em outubro.
“O crime de terrorismo tem relação também com questões políticas ou religiosas. No caso do Peixão, sabemos que ele impõe uma ditadura religiosa, ele não permite certos tipos de crenças ou religiões. Ele expulsa pessoas que possuem religiões afro, candomblé, espiritismo, enfim, tudo o que não tiver com a crença que ele acredita”, declarou o delegado Felipe Curi, secretário da Polícia Civil.
Com forte influência evangélica, Malaquias desenhou passagens bíblicas nas comunidades. Além disso, proibiu terreiros e imagens santas.